SAÚDE NEONATAL - ENFERMAGEM NEONATAL

    ALOJAMENTO CONJUNTO TARDIO

    Autora: Juliana Silva de Almeida


    O sistema de alojamento conjunto surgiu pela necessidade de favorecer o relacionamento favorável entre mãe e o RN. O RN é colocado junto de sua mãe assim que possível tendo com o objetivo de estímulo ao aleitamento materno. Este contanto já nos primeiros horas após o parto propicia uma séries de vantagens, dentre elas, maior interação entre mãe e RN, e capacitação da mãe em relação ao cuidados com o seu bebê. Mãe e filho devem estar em ótimas condições de saúde para serem admitidos no Alojamento Conjunto.

    Para se estabelecer o aleitamento materno é preciso que o RN apresente condições para tal, o que não ocorre com o prematuro e a separação mãe-filho se estabelece. No entanto o grupo dos prematuros é o que precisa mais de aleitamento materno visto a grande importância deste na prevenção da sua morbi-mortalidade. Por outro lado, esta situação gera na mãe e na família grande ansiedade provocada pela dúvida de sua capacidade de cuidar e amamentar seu filho.

    Em 1989, Dr.Fachinni idealizou o Alojamento Conjunto para RN prematuros no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM), baseando-se no modelo argentino, que foi adaptado e colocado em prática pela a equipe de enfermagem e médica do Serviço de Neonatologia do CAISM. Diante desta situação foi criado um sistema de Alojamento Conjunto para a fase de pré-alta, denominado Alojamento Conjunto Tardio (ACT).

    OBJETIVOS DO ACT

    • Propiciar condições para o estabelecimento do aleitamento materno exclusivo e sua duração por tempo prolongado.
    • Estabelecer vínculo educativo com a mãe, fim de dar segurança a ela quando a sua capacidade de cuidar integralmente do seu filho.
    • Tentar resgatar o vínculo afetivo entre mãe e filho no período de internação causado pela separação do binômio mãe-filho.
    • Incentivar o trabalho em equipe multidisciplinar (enfermagem, médicos, serviço social, terapia ocupacional).
    CRITÉRIOS PARA ADMISSÃO NO ACT
    • Recém nascidos de baixo peso, com peso de nascimento menor ou igual a 1500g com período prolongando de internação que já tenham atingido peso suficiente para ficar em berço comum e organização de comportamento de sucção em seio materno (reflexo de busca e procura, sucção eficiente e deglutição).
    • Criança que necessitem de atenção especial devido a alguma má formação e outras dificuldades.
    • Mães cujos filhos necessitem permanecer após a alta hospitalar com algum dispositivo especial como: sonda nasojejunal, gastrotomia, ostomias, administração de medicamentos.
    • Mães que necessitam aumentar a produção láctea.
    • Os RN devem: ter capacidade de termoregulação; ficar em estado de alerta durante a mamadas e ter sucção eficiente e, apresentar uma curva ascendente de peso.
    Por ocasião da alta hospitalar da mulher, a mesma deverá ser reorientada quanto ao seu retorno para permanecer no ACT afim de adaptar-se aos cuidados com seu filho quando este estiver em condições se ter alta.

    Durante todo o período de reinternação da mãe, as condições sociais, físicas, e emocionais deverão ser avaliadas e encaminhadas para que a mesma possa permanecer no ACT antes da alta do RN.

    ETAPAS DO PROCESSO DE INTERNAÇÃO NO ACT

    FASE PREPARATÓRIA:
    Entrevistar com a mãe no puerpério imediato, preenchendo a ficha de entrevista inicial. Expor a rotina da Neonatologia quanto à visita, registro e internação do RN. Explicar a importância do aleitamento materno e a manutenção da lactação. Expor as técnicas de extração de leite. Expor o funcionamento do ACT. Explicar as condições de saúde do RN. Responder e esclarecer as dúvidas da mãe.

    FASE INTERMEDIÁRIA:
    Corresponde ao período de internação do RN. É o momento de maior atuação de enfermagem junto à mulher para a manutenção da lactação. Realizar a extração manual do leite. Orientar e supervisionar a freqüência e quantidade de leite produzido. Orientar quanto a: extração, armazenagem e transporte do leite materno do domicílio até o hospital.

    Avaliando a experiência ao longo dos últimos anos, dados levantados em várias ocasiões, mostram que este serviço tem um índice elevado (cerca de 80%) de aleitamento materno exclusivo no momento da alta.

    Com o sistema ACT o alcance dessa meta é facilitado tendo em vista as características e a natureza da relação de ajuda entre profissionais e cliente.

    CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O ACT

    Citando algumas dificuldades que foram vivenciadas, mas que podem ser superadas com alguns ajustes:

    • Sonolência própria da prematuridade.
    • Ansiedade da mãe em relação ao ganho de peso do RN condicionando sua alta hospitalar.
    • Relativa ociosidade e falta de lazer durante a "reinternação", principalmente quando a mãe ocupa sozinha o quarto de ACT.
    • Preocupação com os outros filhos, familiares, casa, emprego, e outros.
    Outra dificuldade encontrada pela equipe de enfermagem é o número restrito de pessoal que atende o ACT (falta de recursos humanos).

    Para sanar tais dificuldade tem sido de suma importância o trabalho com a equipe multidisciplinar, na medida em que as necessidades básicas do binômio possam ser atendidas de forma satisfatória.

    Mesmo assim, o enfermeiro tem o desafio de integrar todos os esforço, no alcance dos objetivos do programa, tendo como ponto central de sua atuação a prática educativa.

    Voltando aos objetivos propostos, foi observado também que, houve uma melhor integração do binômio mãe-filho, devido ao período de reinternação em que a mãe aprende cuidar do seu RN, aumentando o laço afetivo, sendo que anteriormente o contato não era contínuo e no momento de alta o binômio mãe-filho teriam que se adaptar após o longo período de afastamento.

    É necessário, então, haver um comprometimento não apenas da enfermagem do Alojamento Conjunto Tardio, mas de todos os demais profissionais que tiveram algum contato com a mãe e o RN, informar e incentivar a participação nos cuidados com RN e esclarecer dúvidas existentes no horário de visita e, incentivar o relacionamento pai-mãe-filho.

    ADMISSÃO NO ACT:

    - É o momento que a mãe retorna para cuidar do seu RN.

    - Durante a permanência no ACT, todos os cuidados com RN devem ser desempenhados pela própria mãe, com orientação e supervisão da enfermeira.

    - Fazer a admissão, mostrar as dependência e localização dos materiais para utilização durante o período de permanência.

    - Explicar o preenchimento do impresso de controle e cuidado do RN.

    - Ensinar e supervisionar a mãe quanto as técnicas de banho, controle de temperatura, administração de medicamentos.

    - Orientar e supervisionar a instalação do sistema de drenagem periareolar, quando necessário.

    - Promover interação entre as mães.

    QUANTO A CRIANÇA:

    - Pesar o RN conforme a necessidade.

    - Verificar a temperatura 1 vez por plantão, até a mãe estar apta a realizar a procedimento.

    - Auxiliar a mãe, colocando a criança ao seio a cada duas horas e supervisionar a amamentação.

    APÓS A ALTA:

    O RN é acompanhado no ambulatório para consulta de enfermagem para o controle de ganho ponderal, esclarecimento das dúvidas e reforço das orientações, principalmente sobre o aleitamento materno.

    A equipe de enfermagem é responsável pela promoção e manutenção do ambiente emocional adequado à criança hospitalizada, e por isso deve entender que a participação dos pais durante a internação é indispensável para apoiar emocionalmente o RN.

    A experiência de integrar a mãe e o RN após um longo período de internação é uma tarefa que exige basicamente o envolvimento da enfermagem enquanto elemento fundamental para sanar dúvidas, inquietações, medos da mãe no contato com o RN prematuro.



    Texto baseado em trabalho realizado pela Equipe de Enfermagem em Neonatologia do CAISM.

    VALE, I.N.; OLIVEIRA, L.B.; PRÁ LUZ, A.D. Alojamento conjunto tardio.


    A autora desta página é bolsista de Iniciação Científica da FAPESP.

    Orientadora: Profa. Dra. Maria Helena Baena de Moraes Lopes