Lutemos juntos frente a essa realidade!!!

AIDS: uma nova vida começa aqui.

Evandro Luís Oliveira*

 

A EPIDEMIA DA AIDS NO BRASIL

 

Introdução

A aids, no que tange ao Sistema de Vigilância Epidemiológica, foi identificada pela primeira vez no Brasil em 1982, quando sete pacientes homo/bissexuais foram diagnosticados.

Considerando o período de latência da infecção pelo HIV, podemos deduzir que a introdução do vírus no País deve ter ocorrido na década de 70 e a sua difusão, em um primeiro momento, ocorreu entre as principais áreas metropolitanas do centro-sul, seguida de um processo de disseminação para as diversas macrorregiões, na primeira metade da década de 80. Apesar do registro de casos em todas as unidades federadas, a grande maioria dos cerca de 129 mil casos notificados ao Ministério da Saúde, até fevereiro de 1998, ainda se concentra na Região Sudeste - 89% das notificações, no período 80-85, e 69% dos casos informados, no período 94-97/98. No que concerne à incidência relativa, também a Região Sudeste vem apresentando as maiores taxas de incidência anual, perfazendo um total acumulado de 152 casos por cem mil habitantes, coeficiente bem superior aos observados na Região Sul (77) e Nordeste (27). Dos cerca de 5000 municípios brasileiros, 2509 já notificaram pelo menos um caso de aids até fevereiro de 1998, sendo que os municípios com pelo menos cinco casos estão restritos a 825 (Figura 1).

1980 - 1986

Município/Número de Caso

0 a 100 (1157)
100 a 200 (14)
200 a 300 (8)
300 a 400 (4)
400 a 27200 (10)

 

 

1980 - 1998

Número de Casos/Municípios

0 a 100 (2270)
100 a 200 (42)
200 a 300 (24)
300 a 400 (10)
400 a 27200 (36)

 

Figura 1: Distribuição dos municípios com pelo menos um caso de aids, nos períodos de 1980 - 1986 e 1980 - 1998. 
Fonte: Programa Nacional de DST e Aids/MS

 

Segundo dados do Programa Conjunto das Nações Unidas para HIV/Aids (UNAIDS), o Brasil situa-se entre os quatro países do mundo com maior número de casos notificados; entretanto, quando são consideradas as incidências relativas, encontra-se entre o 40º e o 50º posto no ranking mundial.

A epidemia da infecção pelo HIV/aids no Brasil vem nos, últimos anos, apresentando importantes mudanças de perfil epidemiológico e, principalmente, revelando padrões distintos nos diversos níveis de agregação geográfica, mesmo para uma determinada macrorregião.

Soroprevalência do HIV no Brasil

Estudos sobre a estimativa do número de infectados no País têm apontado para uma prevalência entre 338 mil e 484 mil infectados pelo HIV no grupo etário de 15 a 49 anos, em 1996, sendo que o máximo estimado entre os homens é de 284 mil e de 200 mil entre as mulheres. Sessenta por cento desses infectados estão nas regiões de alto risco: estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

Alguns estudos de soroprevalência do HIV em populações-sentinela indicam prevalências medianas variando entre 3,4 a 5,3% em pacientes politraumatizados atendidos em pronto-socorro, entre 1995 e 1997; de 0,3 a 3,1% em gestantes, em 1995; de 0,3 a 13,3% em pacientes atendidos em clínicas de DST, em 1995; e de 1,9 a 2,6 por 1000 doadores de sangue, em 1996. As prevalências mais altas têm sido encontradas em sítios localizados nas regiões Sudeste e Sul do País, com exceção das prevalências encontradas em banco de sangue, que são maiores na Região Nordeste. Entre os usuários de drogas injetáveis, a soroprevalência do HIV tem variado entre 29% e 71% em estudo realizado em algumas cidades brasileiras, em 1996.

Sobre este tópico, dados atualizados são apresentados no Capítulo "ESTUDOS E PESQUISAS".

Tendência Temporal das Populações Atingidas

Categorias de Exposição

Sexual

A Figura 2 apresenta a distribuição proporcional dos casos de aids segundo categoria de transmissão e período de diagnóstico.

Figura 2: Casos de aids (%) segundo categoria de exposição e ano de diagnóstico. Brasil. 1984-1998.
Fonte: Programa Nacional de DST e Aids/MS

 

Quando se consideram os componentes da categoria sexual de exposição, constata-se que grande parte das notificações, em 1984, foram de homo/bissexuais masculinos (69%). A participação deste componente vem se reduzindo, progressivamente, tendo atingido, em 1996, 44%. A Figura 3 apresenta a distribuição de casos de transmissão sexual, segundo subcategorias, por ano de diagnóstico.

Figura 3: Casos de aids (%) segundo subcategoria de transmissão sexual e ano de diagnóstico. Brasil. 1980-1998.
Fonte: Programa Nacional de DST e Aids/MS

 

Sangüínea

O perfil da transmissão sangüínea em todo o mundo apresentou importantes mudanças, ao longo do período, inicialmente devido a um processo de intervenção que se deu por meio do screening de sangue e, também, devido a processos de inativação dos fatores de coagulação. Embora a cobertura da triagem sangüínea não seja universal na grande maioria dos países em desenvolvimento, inclusive no Brasil, a transmissão devida ao uso de sangue e/ou componentes contaminados vem apresentando importante declínio. No Brasil, os casos que contraíram o HIV por transfusão sangüínea, em 1984 (Figura 4) representam 27% das ocorrências de transmissão sangüínea, e 3% do total de casos diagnosticados naquele ano. No entanto, em 1994, este componente já contribuia com menos de 10% dos casos da categoria, ou 2,8% do total. Essa alteração de perfil deve-se também à inclusão de um número cada vez maior de indivíduos que adquiriram o HIV por meio do compartilhamento de seringas e agulhas, quando da utilização de drogas injetáveis. Os primeiros registros de aids em usuários de drogas injetáveis (UDI) deram-se a partir de 1983. No que concerne à distribuição geográfica, as ocorrências de casos entre usuários de drogas injetáveis vêm-se dando, predominantemente, no centro sul do País, com 81% do total de casos em UDI registrados. A Figura 4 apresenta as freqüências dos casos de transmissão sangüínea, por subcomponentes e ano de diagnóstico.

Figura 4: Casos de aids (%) por subcategoria de transmissão sangüínea e ano de diagnóstico. Brasil. 1984 - 1998.  
Fonte: Programa Nacional de DST e Aids/MS

 

Perinatal

A primeira ocorrência de transmissão perinatal registrada no País data de 1985. Desde então, a freqüência desta categoria vem aumentando, ano a ano, perfazendo 3,6% do total de pacientes diagnosticados em 1996. Entre os casos pediátricos, a transmissão perinatal, que correspondia a cerca de 25,0% no período 84-87, atinge cerca de 90% dos casos diagnosticados em 1994.

A predominância da transmissão perinatal tem modificado o perfil etário das ocorrências: no período 84-87, 48% das crianças diagnosticadas tinham de 0-4 anos, enquanto que este grupo já corresponde a 90% dos casos pediátricos, a partir de 1993. Deve-se ter claro que o aumento proporcional de casos de transmissão perinatal, além de refletir um crescimento efetivo da ocorrência desta categoria, apresenta um componente adicional decorrente da melhoria do diagnóstico a partir do conhecimento acumulado na área, em nosso País.

Perfil Socioeconômico

O instrumento de coleta de dados adotado pelo Ministério da Saúde não dispõe de variáveis que mensurem, de modo mais preciso, o nível socioeconômico dos pacientes; entretanto, a escolaridade é uma informação disponível, sendo tomada como indicador de estrato social.

A totalidade dos casos diagnosticados até 1982 era de nível superior ou segundo grau. Nos dois anos subseqüentes, foram observadas freqüências de 83 e 84% (83/84), e de 76% em 1985, como pertencentes a este grupo; ao passo que apenas 24% dos casos com informações disponíveis sobre escolaridade eram analfabetos ou tinham cursado até o primeiro grau. A tendência de aumento de registro de pacientes de menor grau de escolaridade vem se mantendo ao longo do período; em 1994, constata-se que 65% dos casos eram analfabetos ou tinham cursado até o primeiro grau, e apenas 31% eram de nível superior ou tinham cursado até o segundo grau.

A Organização Mundial de Saúde estima que, no ano 2000, 90% das ocorrências de aids serão registradas nos países em desenvolvimento. Pela tendência observada no Brasil, as populações tradicionalmente marginalizadas, e sobre as quais recaem a grande maioria das doenças endêmicas, as patologias decorrentes da fome e da ausência de saneamento, estão, cada vez mais, infectando-se pelo HIV. Como fator agravante adicional, ressalte-se o fato das dificuldades naturais que esta camada social enfrenta, para ter acesso aos serviços de saúde e à informação, de um modo geral, e à informação para a saúde, de um modo particular. Este último aspecto, somado às prioridades definidas por esta população (prioridades estas impostas pela necessidade e voltadas para a sobrevivência no dia-a-dia), dificulta sobremodo as ações que visam à prevenção, por meio da adoção de práticas seguras e diagnóstico precoce da doença.

Quando esta variável é tomada apenas para pacientes do sexo feminino, verifica-se um perfil onde a predominância de casos de baixa ou nenhuma escolaridade vem ocorrendo desde 1987, quando 2/3 das ocorrências já pertenciam a esse grupo, tendo alcançado, já em 1994, 78%. Observa-se, ainda, uma diferença significativa nas ocorrências de analfabetos, segundo sexo: do total acumulado de notificações, enquanto apenas 3,5% dos homens são analfabetos, este grupo corresponde a 6,1% entre as mulheres com aids.

Quanto aos adultos usuários de drogas injetáveis analisados, verifica-se que, independentemente do sexo, há uma predominância absoluta de indivíduos de baixa ou nenhuma escolaridade, quadro este que se faz presente desde o início da epidemia. Situação similar, em menor grau, entretanto, verifica-se quando se toma em consideração os casos heterossexuais, onde também predominam, desde o início do registro dos primeiros casos desta categoria de exposição, ocorrência de indivíduos de baixa ou nenhuma escolaridade. Verifica-se, portanto, que o fator determinante do perfil inicial da epidemia, no que se refere à escolaridade dos casos, repousa na alta freqüência de homo/bissexuais que tinham cursado o segundo grau ou freqüentado a universidade.

Ao longo do período, também neste contingente, tem-se observado uma participação cada vez maior de indivíduos de menor ou nenhum grau de escolaridade, sem no entanto, superar 50% das ocorrências, mesmo a partir de 1994.

Distribuição por Idade

Desde o início da epidemia, o grupo etário mais atingido tem sido o de 20 a 39 anos, perfazendo 71% do total de casos de aids notificados ao Ministério da Saúde até fevereiro de 1998. Ao longo do período, observa-se um progressivo aumento da freqüência relativa de pacientes mais jovens (20-29), com tendência à estabilização a partir de 1991.

Razão de Sexo

Ao longo do tempo, tem-se verificado uma redução no excesso de casos masculinos. De uma razão de sexo de 28:1 em 1985, constata-se, em 1988, 7:1, tendo atingido 2:1 em 1997/98. Essa queda tem sido considerada como indicador do aumento da transmissão heterossexual em mulheres, que são infectadas pelo HIV como conseqüência das altas taxas de prevalência do HIV entre os bissexuais masculinos e entre os heterossexuais usuários de drogas injetáveis que mantêm um relacionamento sexual estável. Essa conclusão deve ser assumida com cautela, uma vez que, dos casos de aids em mulheres notificados ao Ministério da Saúde, no período 1980-fev/1995, 26% são usuárias de drogas, e menos de 12% são parceiras de bissexuais masculinos.

Mortalidade por aids no Brasil

Cerca de 66 mil óbitos devidos à aids já foram informados ao Ministério da Saúde até 1995, 15 mil somente em 1995, passando a doença a ser a 11ª causa de óbito (8ª entre os homens e 20ª entre as mulheres). Quando analisada por idade, também em 1995, a aids já era a segunda causa de óbito para ambos os sexos, no grupo etário de 20 a 49 anos. Dados mais recentes do município de São Paulo têm indicado uma redução de cerca de 35% na mortalidade por aids após o início da oferta de inibidores da protease no País.

Mudanças Recentes da Epidemia de Aids no Brasil

A partir de 1990, a epidemia no Brasil vem apresentando mudanças no seu perfil, principalmente no que se refere às tendências da incidência entre as regiões Sudeste e Sul. Enquanto que a Região Sudeste, embora concentre cerca de 70% dos casos de aids notificados no País, vem apresentando um crescimento de 0,55 casos por 100.000 habitantes ao ano, a Região Sul vem registrando um crescimento de 1,33 casos por 100.000 habitantes ao ano.

Esse processo evolutivo da epidemia no País é acompanhado de uma mudança evidente no perfil apresentado pelas categorias de exposição, quando confrontados os períodos de 1987-92 e 1993-97, e o principal fenômeno a destacar é o grande salto na proporção relativa de casos notificados para a categoria de exposição heterossexual. No Norte/Nordeste, a maior participação dos heterossexuais ainda é acompanhada da manutenção da ocorrência de casos na categoria homo/bissexual (cerca de 45% dos casos); nas demais macrorregiões, entretanto, houve uma redução importante na proporção dos casos de aids notificados nesta última categoria, ao mesmo tempo em que se manteve uma significativa proporção dos casos classificados como usuários de drogas injetáveis.

 

Incidência da Aids por Ano de Diagnóstico.
Brasil. 1985 - 1997*.

* 1997 - Incidência Estimada
*
Casos Notificados até 28/02/98.

Como se pode constatar no gráfico acima, após um período de intenso crescimento, a epidemia de aids no Brasil vem apresentando, nos últimos anos, uma relativa estabilidade. Tal fato é evidenciado a partir da incidência anual que vem-se mantendo em torno de 11 por 100.000 habitantes (17 mil casos novos) nos últimos 3 períodos - 95, 96 e 97. Esse quadro deve-se, basicamente, à queda de ocorrências de novos casos de homens que fazem sexo com homens, junto à adoção de medidas preventivas adequadas. Esse cenário, entretanto, deve ser visto com cautela, dado o crescimento que se pode observar entre mulheres e população heterossexual de baixa renda. Além do mais, a manutenção de tendência no segmento acima descrito encontra-se na dependência da manutenção de nível adequado de medidas preventivas. 


2 . RESENHA BIBILIOGRÁFICA E ARTIGOS DIVERSOS

2.1 SISTEMAS DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DA INFECÇÃO POR HIV E AIDS

VIGILÂNCIA EOPIDEMIOLÓGICA: Vigilância epidemiológica é o conjunto de atividades que permite reunir a informação indispensável para conhecer, a cada momento, o comportamento ou a história natural da doença e assim detectar ou prever alterações de seus fatores condicionantes. O propósito da Vigilância epidemiológica é recomendar medidas de atuação sobre bases objetivas e científicas, a curto, médio e longo prazos, capazes de controlar ou prevenir o problema.

Suas funções são:

  1. reunir toda informação necessária e atualizada - coleta de dados;
  2. processar, analisar e interpretar os dados - organização e análise dos dados;
  3. fazer as recomendações pertinentes que decorram das funções anteriores para a implementação de ações de controle, imediatas ou a longo prazo - divulgação e uso dos dados.

Tudo isto pode ser resumido como: vigilância epidemiológica é a informação para a ação.

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DA INFECÇÃO E DA DOENÇA - no caso da AIDS considera-se que existem duas situações a serem avaliadas - os CASOS de AIDS e a INFECÇÃO por HIV - os objetivos e as metodologias de vigilância são diferentes para cada uma destas situações.

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS DE AIDS - é feita de forma sistemática através de notificação (compulsória) dos casos diagnosticados que sejam compatíveis com os critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde. O objetivo desta Vigilância é obter as informações para planejar as ações a curto e a médio prazos - cálculo da necessidade de medicamentos e de disponibilidade de medicamentos e de disponibilidade de ambulatórios e leitos hospitalares.

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DA INFECÇÃO POR HIV - é feita através de estudos pontuais com populações específicas e metodologia especial. A metodologia mais usada para vigilância da infecção é chamada Vigilância Sentinela, cujo método e critérios de escolha foi criado e sistematizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O objetivo desta vigilância é obter as informações para planejar as ações a longo prazo - campanhas educativas e medidas de intervenção.

SISTEMA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DA AIDS NO RIO GRANDE DO SUL:

Coleta dos dados: A coleta dos dados é feita e sistematizada no Setor de Epidemiologia da Seção de Controle da AIDS da Secretaria da Saúde e Meio Ambiente do RS (SSMA/RS) através de:

Organização e análise dos dados: Os dados são armazenados em dois bancos de dados, em microcomputador, um deles de segurança, que utilize o programa EPIINFO e o outro utilizando o SINAN (Sistema Nacional de Informações) banco de dados universal utilizado para notificação de doenças agudas e crônicas no Brasil. Mensalmente é feita análise geral dos dados incluídos naquele mês. Trimestralmente é feita uma análise mais ampla de todos os casos registrados da epidemia no Estado, através de séries históricas e análises por períodos, e segundo indicadores epidemiológicos adequados.

Divulgação e uso dos dados: Mensalmente é elaborado um relatório sumário da situação atual da epidemia de AIDS. Trimestralmente é elaborado um Informe Epidemiológico contendo não só a análise da situação histórica da epidemia de AIDS mas também outros artigos e comunicação de eventos de interesse na área. As informações são divulgadas sistematicamente também através da imprensa leiga. Os dados divulgados embasam todas as ações pertinentes tanto a nível de prevenção como de atendimento.

 

INDICADORES EPIDEMIOLÓGICOS

" O objetivo final da epidemiologia é produzir conhecimento e tecnologia capazes de promover a saúde individual através do alcance coletivo. No entanto, apesar de Ter saúde como sua preocupação fundamental, os dados com os quais lida referem-se fenômenos de não saúde: a morte ou doença no homem e fatores de degradação ou inadequação no ambiente."

 

MEDIDAS DE MORBIDADE E MORTALIDADE

*Na epidemiologia, morbidade e mortalidade sempre será a uma população pré-definida...

*Entende-se por população o conjunto dos que estão expostos a contrair a doença em um espaço de tempo determinado.

*Denominan-se coeficientes ou taxas as relações entre o número de eventos reais e os que poderiam acontecer (relativizando-se à população).

*A expressão quantitativa do agravo é dada por diferentes coeficientes de morbidade. Para fins operacionais, estes coeficientes são definidos como quocientes entre o número de casos de uma doença e a população.

*Em saúde pública, os coeficientes que medem morbidade específica são discriminados em coeficientes que enfocam a incidência de doenças e coeficientes que descrevem a sua prevalência.

INCIDÊNCIA: A incidência de doenças em uma população significa a ocorrência de casos novos relacionados à unidade de intervalo de tempo, dia, semana, mês ou ano. É a intensidade com que estão surgindo novos doentes em uma determinada população. Para efeito de estudo comparativo de incidência de doenças numa mesma população em épocas diferentes, ou em populações diversas numa mesma época, usa-se o coeficiente de incidência.

Coeficiente de incidência = nº de casos novos da doença em det. População e det. tempo x 10n hab.

População

10h : exponencial de referência. Quanto maior o número de casps em relação ao total da população maior é o expoente que se usa. No caso da AIDS. Se utiliza o 10 = 100.000

PREVALÊNCIA: A medida mais simples para prevalência é a frequência absoluta de casos de doenças, independente da época em que esta iniciou. O coeficiente é a medida que permite estimar, no tempo e no espaço, a prevalência de uma dada doença, fixado um intervalo de tempo, e todas as demais variáveis referentes a uma determinada população: idade ou grupo etário, sexo, ocupação, etc...

Coeficiente de prevalência = nº de casos conhecidos de uma determinada doença x 10n hab.

População

Prevalência instantânea ou pontual - É medida pela frequência da doença ou pelo coeficiente em um ponto definido no tempo.

LETALIDADE: É a medida da mortalidade específica. A letalidade mede o número de óbitos específicos por determinada causa.

 

INDICADORES EPIDEMIOLÓGICOS DA AIDS:

Número total de casos acumulados - medida pouco usada em epidemiologia. Este tipo de indicador praticamente só é utilizado em situações de "epidemia localizada" (em determinada região e tempo, com uma situação de exposição circunstancial e aguda). No caso da AIDS isto se justifica no início, quando a epidemia era nova e pouca conhecida, a tendência é que este indicador seja abandonado como medida desta epidemia.

Óbitos registrados - mede o número de atestados de óbito com registro em AIDS como causa mortis. Este dado nos aponta a taxa de letalidade e a sobrevida ao longo do tempo.

Taxa de letalidade - mede o número de óbitos específicos por determinada causa. No caso de AIDS significa o número de óbitos por AIDS em relação ao número de casos de AIDS registrados no período.

Prevalência de registro - mede a frequência de casos registrados (vivos) naquele momento temporal.

Coeficiente de prevalência - Relativiza a prevalência de registro à população atual do Estado, isto é, o quanto isto representa para cada 100.000 habitantes do RS.

Coeficiente de incidência - Relativiza o número de casos novos de AIDS notificados por ano à população do Estado naquele ano. Significa o quanto de casos novos representa para cada 100.000 habitantes durante aquele ano no RS.


2.2 DOIS MUNDOS, DUAS ESPERANÇAS

AIDS CLINICAL CARE
Set./96 - Vol. 8 - Nº 9
The Publishing Division of The Massachusetts Medical Society.

 

Apesar de seu tema - "Um mundo, uma esperança" (One World, One Hope) exposto nas camisetas e faixas cruzando Vancouver - a XI Conferência Internacional em AIDS em julho, transmitiu uma mensagem diferente. Nas sessões plenárias e pôsteres, mesas-redondas e conferências, dois mundos separados em relação à AIDS tornaram-se aparenntes.

Em um Mundo, regras otimistas. O progresso científico garantiu os últimos poucos anos rumo à erradicação da doença pelo HIV e sintetizou isto em apresentações estonteantes em Vancouver. Dosagens de carga viral utilizadas em conjunto com monitoração de CD4 tornaram possível uma precisão notável do prognóstico em pessoas infectadas. Estudos confirmaram repetidamente que combinações de 3 ou mais drogas anti-retrovirais podem tornar o vírus indetectável no soro; e existem evidências empíricasde que isto também ocorre nos linfonodos. Estes regimes parecem efetivos em fases precoces e tardias da infecção. Benefícios clínicos parecem seguir melhorias nos marcadores da doença. Drogas mais poderosas e menos tóxicas surgem no horizonte.

Em Vancouver, pela primeira vez, cientistas entregam-se abertamente a especulações proibidas. Alguns utilizaram modelos matemáticos para calcular quantos anos de tratamento serão requeridos para erradicar totalmente o vírus das células das pessoas e permitir assim a interrupção do tratamento. Outros sugeriram regimes de drogas intratecais para expulsar o vírus do seu último refúgio no sistema nervoso central. Outros ainda postulam esquemas para a prevenção efetiva de transmissão ocupacional, perinatal e mesmo sexual do HIV utilizando combinações anti-retrovirais profilaticamente. No mundo da AIDS, infecção por HIV evoluiu de uma condição rapidamente fatal para uma condição prevenível ou - na pior hipótese - cronicamente tratável, o que parece uma meta eminentemente realística.

No outro Mundo da AIDS, o modo é diferente. Demógrafos estimaram que por volta do ano 2010 a expectativa de vida média será reduzida de 66 p/33 anos na Zâmbia, de 70 para 40 anos em Zimbabwe e de 59 para 31 anos em Uganda, tudo "cortesia" do HIV e tuberculose. Na África, Índia e Sudeste Asiático onde se localiza mais do que 90% da infecção mundial por HIV, não estão disponíveis nem mesmo antibióticos simples utilizados para prevenir e tratar complicações da AIDS, muito menos o AZT e inibidores de protease.

No segundo mundo da AIDS, a maioria dos esforços anti-HIV enfocam realisticamente sobre a prevenção, mais do que sobre o tratamento. Algum progresso já pode ser reportado neste sentido: um programa agressivo de distribuição de preservativo na Tailândia evitou uma infecção estimada em 2 milhões de pessoas. A soroprevalência entre as mulheres grávidas vem diminuindo em clínicas urbanas e rurais. Ambos os números aqui são modestos. Progressos sobre uma vacina que poderia produzir resultados mais dramáticos são lentos. Neste lado está uma quantidade de doenças tratáveis que podem apenas serem sondadas. Para quem vive no segundo mundo da AIDS, toda esperança consiste em não infectar-se. Um teste positivo para HIV, de acordo com o Dr. Connie Osbôrne de Zâmbia, é visto pelos pacientes e médicos como o fim da linha.

Neste ponto da História da AIDS, este encontro internacional apresenta pouca penetração científica. Encontros menores, mais específicos agora servirão a esta proposta. Até o momento a conferência gigante retém uma importância única simplesmente por esta inesquecível justaposição. Ela ilustra um fato, facilmente contemplado em pequenas conferências de que os dois mundos rapidamente divergentes de AIDS - estão inexoravelmente entrelaçados. Eles estão delineados por fronteiras econômicas, não geográficas. Eles coexistem no EUA e na Europa, em Los Angeles em Paris e Bombay, em sua cidade e na minha.

Mesmo enquanto a ciência nos leva ao avanço das investigações, a "economia do vírus" vem se mostrando cada vez mais difícil de resolver.

Abigail Zuger, MD
Tradução: Cecília Cassal Corrêa.



 

Links interessantes

Brasil

AIDS/Maranhão

Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis

ABIA - Associacao Brasileira Interdisciplinar da AIDS

Grupo de Apoio e Prevencao a AIDS - Minas Gerais

Sociedade Viva Cazuza

Herbert Daniel

PELA VIDDA/RJ

Projeto CD-InfoAIDS

Na Luta Contra a Aids

GAPA - São José dos Campos

Positivo!

Internacionais

5th Conference on Retroviruses & Opportunistic Infections*
February 1-5, 1998 - Chicago, IL

Um Rincón de Esperanza

Mediconsult.com AIDS-HIV News

VIH y SIDA

Consejo Nacional de Prevención y Control del SIDA (C.O.N.A.S.I.D.A.)

Mundo Latino

Pregúntale a NOAH sobre el SIDA

NEWS Sida-HIV

Nivel de Tratamiento Básico para VIH

Búsquedas realizadas en Yahoo


 Informações Úteis

Aids pode ter supervírus
O coquetel de drogas contra a Aids será uma faca de dois gumes para os pacientes neste 1998.
Se os remédios continuarem disponíveis na rede pública, mais doentes poderão se beneficiar de uma terapia capaz de reduzir as infecções e melhorar a qualidade de vida.
Se o governo mantiver o corte já anunciado de R$ 500 milhões nos gastos com essas drogas, o Brasil corre o risco de assistir ao surgimento de um supervírus do HIV. O país pioneiro na distribuição do coquetel para todos pode se transformar num caso único de resistência em massa aos remédios.
Para enfrentar a epidemia, o governo teria de gastar ainda mais. O consenso no meio médico é o de que o coquetel deva ser adotado cada vez mais cedo, o que significa mais pacientes e mais dinheiro.
Outra mudança esperada para 98 é a queda na infecção de crianças nascidas de mães soropositivas. O uso do AZT pela mãe e pelo bebê já pode baixar de 28% para 8% o risco de contágio.

Inibidores da Protease: novos aliados contra a AIDS
A novidade mais recente no tratamento das infecções pelo HIV vem sendo representada pelo advento do grupo dos chamados "inibidores da protease". Diferente do conhecido AZT e de outros fármacos já tidos como convencionais, esses agentes impedem a ação da protease, enzima considerada essencial nas fases tardias da reprodução viral. Com isso, pode-se diminuir a atividade do HIV contra o organismo sabidamente imunodeficiente do hospedeiro e abrir perspectiva de uma sobrevida mais longa e dentro de padrões mais humanos, já que seus efeitos colaterais parecem ser bem menos acentuados do que os provocados pelo AZT. É possível que algns dos representantes desse promissor grupo antiaidético cheguem ao Brasil ainda este ano.

Inibidores da Protease II - Coquetel Esperança
I Uma combinação das drogas Indinavir, AZT e 3TC administrado em 32 voluntários conseguiu reduzir a quantidade do vírus HIV até níveis que não puderam ser detectados por testes convencionais em 85% dos pacientes testados, segundo estudo apresentado no 3o Congresso de Retrovírus e Infecções Oportunistas, realizado nos Estados Unidos. O Indinavir faz parte de um novo grupo de medicamentos contra o vírus da AIDS conhecido como inibidores de protease. Essa classe de drogas age sobre a protease, proteína fundamental para o amadurecimento do HIV. Já o AZT (sigla para zidovudina) e o 3TC (sigla para lamivudina) fazem parte de uma classe de medicamentos que inibe uma enzima fundamental para a reprodução do HIV, conhecida como transcriptase reversa.

 

  • Dormindo com o Inimigo
    5 para 1
    Era a relação de homens para cada mulher em 1994. Dez anos antes havia 126 para 1
    45%
    das mulheres com Aids em São Paulo têm parceiros fixos e únicos.
    20 a 34
    anos é a faixa etária das mulheres de SãoPaulo cuja principal causa mortis é a Aids.

    Cresce o contágio dentro de casa.
    O número de mulheres infectadas com o HIV cresce no Brasil, o que deve resultar em um número cada vez maior de crianças nascendo com o vírus da AIDS. As estatísticas revelam ainda que a contaminação das mulheres vem se dando principalmente através de relações com os próprios maridos. Segundo o Ministério da Saúde, as mulheres já significam 25% dos infectados, quando em 1984 representavam apenas 1% do total. Elas já constituem, no mundo, metade dos 7.500 casos diários de novos infectados, garante a Organização Mundial de Saúde.

    Doença mata quatro vezes mais rápido no Brasil
    Doentes de AIDS no Brasil morrem quatro vezes mais rápido do que pacientes europeus e norte-americanos, revela estudo da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo. A pesquisa mostra que a sobrevida média de um doente em São Paulo é de 11 meses, enquanto em São Francisco (EUA) esta média beira os 42 meses. A sobrevida depende das condições de vida do doente e do acesso que ele tem a exames e medicamentos.

    Italianos tem novo teste.
    Cientistas italianos criaram um método de análise sanguínea para medir a quantidade de vírus da AIDS presente no organismo. Com isso, os médicos têm mais chance de saber como a doença vai evoluir e o melhor momento de começar uma terapia, explicam os professores Ferdinando Dianzani, Satefano Vella e Fernando Aiuti, do Instituto Superior de Saúde, em Roma. O exame se baseia na medição do material genético do HIV no sangue.

    Rápidas:

    • - E.Rosenberg e colaboradores estão estudando um receptor de
      quimoquina para facilitar a penetração da medicação nos
      macrófagos infectados pelo vírus da HIV. A cura da AIDS
      poderá estar na vacina que ajudará às células CD4 a defender-se
      ou numa terapia genética que facilitaria a entrada do retroviral na
      célula. (Science Nov 1997;278:1291 a 1300)

      - In vitro, o diazepam, que é um calmante, conseguiu sensibilizar as
      células da microglia e monócitos para que tivessem uma ação
      contra o vírus HIV-1, impedindo que fiquem protegidas da ação
      retroviral. (Antimicrob. Agents Chimother Nov.1997;41:2566-69)

Não esqueça, Aids não se pega abraçando e fazendo carinho.
Ajude-mos a combater o pior estigma da Aids:
O Preconceito !



*Bolsista de Iniciação Científica do PIBIC-CNPq/PRP - Curso de Enfermagem - FCM - UNICAMP


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