ESTERILIZAÇÃO POR FORMALDEÍDO

Juliana Capellazzo Romano*

Maria Cristina Ferreira Quelhas**


Definição

O formaldeído é um gás incolor, possui odor irritante característico, cáustico para a pele. Quando em concentrações superiores a 20mg/l polimeriza-se formando o paraformaldeído, um precipitado branco. Este, quando aquecido, libera formaldeído.

Comercialmente é encontrado em solução aquosa a 38-40% em peso, e contém de 8-15% de metanol como estabilizante (para evitar a polimerização).

FORMULAÇÕES

AQUOSA: a 10%, possui agentes tensoativos, antioxidantes, seqüestrantes, dissolvidos em glicerina. Não libera vapores irritantes e conserva as propriedades germicidas do formaldeído.

ALCOÓLICA: a 8%, possui agentes tensoativos, antioxidantes, seqüestrantes e etanol a 70%.

 

Mecanismo de ação

A atividade germicida do formaldeído se deve à aquilação de radicais amino, carboxil, oxidril e sulfidril de proteínas e ácidos nucléicos microbianos, formando pontes metilênicas ou etilênicas, o que impedem que esses compostos celulares realizem suas funções.

O formaldeído tem ação lenta. Quando em concentração de 5%, necessita de 6 a 12 horas para agir como bactericida e de 18 horas, a 8%, para agir como esporicida.

O formaldeído tem função fungicida, viruscida e bactericida. Se agir por 18 horas tem ação esporicida.

 

Indicações

É utilizado para esterilização de artigos críticos:

  • cateteres, drenos e tubos de borracha, náilon, teflon, PVC e poliestireno - em ambas as formulações;

  • laparoscópios, artroscópios e ventriloscópios, enxertos de acrílico - apenas na formulação aquosa.

     

    Desvantagens

    O uso do formaldeído tem como desvantagens:

  • perde atividade com a presença de matéria orgânica;

  • odor forte e irritante;

  • a formulação alcoólica corroi metais, danifica lentes, instrumentos ópticos, artigos plásticos e de borracha;

  • deixa resíduos tóxicos em equipamentos;

  • possui alta toxicidade. No ar sua concentração máxima permitida é de 1ppm por 30 minutos, podendo após esse limite provocar irritação de mucosas, dermatite, asma, bronquite e pneumonite;

  • é considerado carcinogênico pelo National Institute of Occupational Safety Health (NIOSH).

     

    Cuidados com o uso

  • Primeiramente o artigo deve ser lavado cuidadosamente e depois seco para evitar que não altere a concentração do produto esterilizante;

  • o material pode então ser imerso na solução, o recipiente que contém a solução deve ser tampado;

  • marcar a hora de início do processo;

  • o recipiente deve permanecer fechado durante todo o processo - 30 minutos para desinfecção e 18 horas para esterilização;

  • para manusear os materiais, usar luvas ou pinças, se possível utilizar máscara;

  • enxaguar abundantemente os artigos com água ou soro fisiológico estéreis ou álcool, tomar cuidado para evitar contaminação do material;

  • durante o manuseio do produto, ter cuidado para evitar ingestão acidental do mesmo.

     


    Esterilização com formaldeído gasoso e vapor de baixa temperatura

    Este método de esterilização é praticamente desconhecido no Brasil, porém é muito difundido em alguns países da Europa, como a Suécia. É chamado de LTSF (Low Temperature Steam and Formaldehyde Sterilization).

    A esterilização por este método ocorre através de formaldeído gasoso na presença de vapor saturado, é preciso que a mistura destes componentes esteja uniformemente distribuída na câmara da autoclave.

    O processo consiste na entrada de vapor e gás de formaldeído através de pulsos na autoclave, após a entrada da mistura há um período de manutenção da esterilização permitindo que o gás se difunda pela carga de materiais. Ocorre então o período de retirada do gás da câmara da autoclave, este acontece por evacuações e jatos de vapor ou ar. Realiza-se então a fase de secagem.

    O processo dura cerca de 2 horas a 65oC, se a temperatura for mais elevada o tempo de duração do processo diminui.

    Indicações

    Este método deve ser utilizado para materiais que não podem ser expostos ao calor - materiais termosensíveis - como equipamentos elétricos, endoscópios.

    Testes

    Os testes que devem ser realizados para se validar o processo são os testes físicos e microbiológicos.

    Os testes físicos investigam a capacidade física da autoclave, de distribuir uniformemente o vapor, o gás, de evacuar o ar da câmara e da carga, uniformidade de distribuição da temperatura e outros.

    Os indicadores biológicos utilizados são de dois tipos: um com esporos B. Stearothermophillus e outro com B. subtilis; o primeiro é mais resistente ao formaldeído possibilitando assim que se observe uma falha na concentração ou distribuição do formaldeído na câmara, o segundo tem maior resistência à umidade, detectando deficiência na hidratação.

    Há ainda um outro teste que avalia a penetração gasosa, este utiliza uma hélice que são feitas com um tubo de aço inoxidável com relação de comprimento/diâmetro de 2000:1. Um indicador biológico é colocado em um dos extremos da hélice e após o término da esterilização são cultivados os indicadores biológicos dos espaços da câmara e o da hélice. Nenhum dos organismos deve ser recuperado em três ciclos de esterilização para que a autoclave seja aprovada para uso.


    * Aluna do 4o ano de Graduação em Enfermagem - UNICAMP - bolsista de iniciação científica da FAPESP

    **Enfermeira, Especialista em Central de Material Esterilizado (CME) e Centro Cirúrgico, Supervisora Técnica da CME do Hospital de Clínicas da UNICAMP

    ORIENTADORA: Profa. Dra. Maria Helena Baena de Moraes Lopes - Professora Assistente Doutora do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas - UNICAMP


    Bibliografia Consultada

      ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE ESTUDOS E CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR (APECIH). Esterilização de Artigos em Unidades de Saúde. São Paulo, 1998.

      COSTA, A.O.; CRUZ, E.A.; GALVÃO, M.S.S.; MASSA, N.G. Esterilização e desinfecção:  Fundamentos básicos, processos e controles. São Paulo. Cortez, 1990.

     

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