ESTERILIZAÇÃO POR ÓXIDO DE ETILENO

Juliana Capellazzo Romano*

Maria Cristina Ferreira Quelhas**


Definição

O óxido de etileno C2H4O é um gás incolor à temperatura ambiente, é altamente inflamável. Em sua forma líquida é miscível com água, solventes orgânicos comuns, borracha e plástico.

Para que possa ser utilizado o óxido de etileno é misturado com gases inertes, que o torna não-inflamável e não-explosivo. As misturas utilizadas são:

  • Carboxide: 90% de dióxido de carbono e 10% de óxido de etileno;

  • Oxifume-12: 88% de diclorofluormetano (freon) em peso e 12% de óxido de etileno;

  • Oxifume-20: 80% de dióxido de carbono em peso e volume de gás e 20% de óxido de etileno;

  • Oxifume-30: 70% de dióxido de carbono em peso e volume de gás e 30% de óxido de etileno.

    A umidade relativa é de suma importância na esterilização por óxido de etileno. Alguns enfoques são dados a esta importância da umidade na esterilização por óxido de etileno, um deles é o fato de que o aumento da umidade relativa aumenta o poder de esterilização do óxido de etileno. Outro enfoque dado a essa importância é que ocorrem reações químicas entre o óxido de etileno e unidades biológicas, essas reações são ligações covalentes e portanto não se dissociam, para isso a ionização deve ocorrer em um solvente polar; assim a água funciona nesta reação como meio de reação ou solvente.

    Um outro aspecto da importância da umidade neste tipo de esterilização é o fato de que a água e o agente esterilizante promovem reciprocamente a permeabilidade através de embalagens de filme plástico, dependendo de sua característica polar ou apolar. O óxido de etileno funciona como transportador através de filmes não polares e hidrófobos; já a água favorece a passagem de óxido de etileno através de filmes polares (celofane e poliamida por exemplo).

    Mecanismo de ação

    O óxido de etileno reage com a parte sulfídrica da proteína do sítio ativo no núcleo do microrganismo, impedindo assim sua reprodução.

    Indicações

    A utilização do óxido de etileno na esterilização é hoje principalmente empregada em produtos médico-hospitalares que não podem ser expostos ao calor ou a agentes esterilizantes líquidos: instrumentos de uso intravenoso e de uso cardiopulmonar em anestesiologia, aparelhos de monitorização invasiva, instrumentos telescópios (citoscópios, broncoscópios, etc.), materiais elétricos (eletrodos, fios elétricos), máquinas (marcapassos, etc.), motores e bombas, e muitos outros.

    Este tipo de esterilização contribui para a reutilização de produtos que inicialmente seriam para uso único, assim a prática deste tipo de esterilização evidencia vantagens econômicas, porém a segurança de se reesterilizar estes produtos ainda é questionada.

    Cuidados no uso

    A esterilização por óxido de etileno, como os demais métodos, exige limpeza prévia do material, esta deve ser rigorosa. O acondicionamento dos produtos também é questão importante e deve ser adequado ao tipo de esterilização e ao artigo.

    A esterilização é realizada em equipamento semelhante a uma autoclave e o ciclo compreende as seguintes fases:

    elevação da temperatura: até aproximadamente 54oC, a eficiência da esterilização aumenta com o aumento da temperatura, diminuindo o tempo de exposição;

    vácuo: de cerca de 660mmHg, assim se reduz a diluição do agente esterilizante e fornece condições ótimas de umidificação e aquecimento;

    umidificação: é introduzido o vapor na câmara até atingir umidade relativa de 45 a 85%. A fase de umidificação depende do tamanho e densidade da carga;

    admissão do gás: a mistura gasosa sob pressão e concentração pré-determinada é introduzida na câmara;

    tempo de exposição: depende do tipo de embalagem, do volume e densidade da carga e se o esterilizador possui circulação de gás. Para esterilIzadores industriais o tempo pode variar de 3 a 16 horas;

    redução da pressão e eliminação do gás: devem ser tomados cuidados para proteger os operadores do equipamento, para diminuir resíduos nos produtos e para preservar a integridade da embalagem;

    aeração: este período é necessário para que o óxido de etileno residual possa ser reduzido a níveis seguros para a utilização dos artigos nos pacientes e para o manuseio pela equipe, é realizado utilizando ar quente em um compartimento fechado específico para esse fim, o tempo desse período depende da composição e tamanho dos artigos, do sistema de aeração, da forma de penetração de temperatura na câmara, do preparo e empacotamento dos artigos e do tipo de esterilização por óxido de etileno. Este período pode variar de 6 horas a 7 dias.

    Toxicidade

    O óxido de etileno é irritante da pele e mucosas, provoca distúrbios genéticos e neurológicos. É um método, portanto, que apresenta riscos ocupacionais.

    Existem alguns relatos de exposições agudas de humanos a altas concentrações de óxido de etileno, onde foram observadas reações como náusea, vômitos e diarréia (CAWSE et al, 1980 apud APECIH).

    Há também na literatura estudos que revelam alterações no número e tipo de aberrações cromossômicas em grupos de pessoas expostas a concentrações de 1 a 40 ppm de óxido de etileno, em relação a pessoas não expostas (RICHAMOND et al, 1985 apud APECIH).

    Os limites estabelecidos de tolerância ao óxido de etileno são:

    - no ar, a concentração máxima para a qual pode-se ficar exposto é de 1 ppm ou 1,8 mg/m3 para um dia de 8 horas de trabalho;

    - a exposição ao gás a uma concentração de 10 ppm é por, no máximo, 15 minutos.

    Testes

    Para se validar a esterilização por óxido de etileno, devem ser realizados testes físicos, químicos e microbiológicos.

    Os testes químicos envolvem a avaliação da umidade, da concentração do óx. de etileno, da pureza do ar e do gás, dos resíduos ambientais e nos produtos após a esterilização. Os testes físicos envolvem o controle da temperatura, da pressão (positiva e negativa) e do tempo de exposição.

    No teste microbiológico um indicador biológico é colocado dentro de uma seringa, com o êmbolo inserido, esta é empacotada e colocada no centro da câmara. O equipamento é então carregado normalmente.

    Desvantagens

  • custo elevado;

  • toxicidade;

  • efeito carcinogênico, mutagênico e teratogênico;

  • tempo longo de aeração, exigindo maior quantidade de material disponível para uso.

    Cuidados especiais

    Para o manuseio de artigos esterilizados por óxido de etileno, antes de passado o período de aeração, deve-se utilizar luvas de borracha butílica. Outro cuidado importante é durante o transporte dos materiais após a esterilização, o carro de transporte deve ser puxado e não empurrado e esse transporte deve ser realizado o mais rápido possível.

    No caso de ocorrência de vazamento do gás, alguns cuidados devem ser observados:

  • se entrar em contato com os olhos lavar com bastante água corrente por 15 minutos;

  • se cair sobre a pele lavar imediatamente com água e sabão. Isolar a roupa contaminada;

  • em caso de exposição por muito tempo, levar a pessoa exposta a local arejado e administrar oxigênio se necessário.

    Observação: mulheres em idade fértil e gestantes não devem realizar qualquer atividade relacionada com óxido de etileno.


    * Aluna do 4o ano de Graduação em Enfermagem - UNICAMP - bolsista de iniciação científica da FAPESP

    **Enfermeira, Especialista em Central de Material Esterilizado (CME) e Centro Cirúrgico, Supervisora Técnica da CME do Hospital de Clínicas da UNICAMP

    ORIENTADORA: Profa. Dra. Maria Helena Baena de Moraes Lopes - Professora Assistente Doutora do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas - UNICAMP


    Bibliografia Consultada

      ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE ESTUDOS E CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR (APECIH). Esterilização de Artigos em Unidades de Saúde. São Paulo, 1998.

      ASSOCIATION OF OPERATING ROOM NURSES - AORN. Standarts Recommended Practices, Guidelines, Denver, 1997. p.267-8. In: Rev. SOBECC, São Paulo, v.4, n.1, p.19, jan./mar. 1999.

      COSTA, A.O.; CRUZ, E.A.; GALVÃO, M.S.S.; MASSA, N.G. Esterilização e desinfecção:  Fundamentos básicos, processos e controles. São Paulo. Cortez, 1990.

     

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