PRINCIPAIS DISTÚRBIOS NUTRICIONAIS PREVALENTES NA INFÂNCIA
Um exame clínico de uma criança deve ser realizado de maneira detalhada para que se consiga detectar precocemente qualquer agravo e mesmo preveni-lo. Para tanto, faz-se necessário uma investigação sobre o hábito alimentar da família, pois com certeza influenciará no estado nutricional e no desenvolvimento da criança e do adolescente.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, Nutrição é o processo pelo qual os seres vivos recebem e utilizam as substância necessárias à manutenção da vida, ao crescimento, ao funcionamento normal dos órgãos e à produção de energia.
Considera-se eutrófica a criança que apresenta estado nutricional normal. Distrofia significa qualquer alteração do estado nutricional normal e compreendem distúrbios da nutrição por carência (anemia, deficiência calórico-protéica) ou por excesso (obesidade) (CARRAZA, 1994).
Na avaliação clínica do estado nutricional existem alguns fatores importantes que precisam ser levados em consideração:
- história de doenças (atual e pregressa);
- história alimentar (atual e passada);
- exame clínico, medidas antropométricas e descrição de manifestações físicas que expressem deficiências ou excessos nutricionais específicos.
ANEMIAS
Suspeita-se da presença de anemia quando ao exame físico for constatada presença de palidez cutâneo-mucosa. Poderá ser percebida em: mucosas conjuntivais, labial e intra-oral; ponta dos dedos e orelhas; leitos ungueais, face palmar e a pele como um todo (LEÃO, 1989).
Tem como causas 3 mecanismos para o seu aparecimento: hemorragia aguda (interna ou externa), hemólise (defeito congênito ou fator extrínseco à hemácia levando-a a uma destruição precoce) e produção deficiente de hemácias (medula hipoplásica, invadida por células neoplásicas ou disfuncional por causa da carência de ferro, vitamina B12 ou outros fatores) (LEÃO, 1989).
A deficiência de ferro é a causa mais frequente de anemia, principalmente em populações de baixa renda. Estão mais sujeitos à anemia ferropriva, segundo IONEMOTO (1994):
- lactentes sob amamentação mista ou em aleitamento materno estendido por longo tempo sem receber suplementação de ferro;
- pré-termos, já que o feto recebe a maior parte do ferro durante os últimos 3 meses de gravidez;
- baixo peso ao nascimento;
- gemelaridade;
- perda de sangue fetal durante o parto (placenta prévia, deslocamento prematuro de placenta,...);
- pré-escolares e escolares que tenham uma dieta pobre em ferro;
- parasitismo intestinal (analóstomos, em especial);
- outras perdas gastrintestinais;
- ingestão de leite cru.
O quadro clínico é caracterizado por:
- déficit de crescimento e desenvolvimento;
- alteração da pele e anexos - palidez, glossite, quelite...;
- alterações gastro-intestinais - gastrite, acloridria,...;
- distúrbios comportamentais-irritabilidade, desinteresse pelo meio, distração, falta de memória, pica (perversão do apetite, ingerindo gelo, terra...);
- diminuição da capacidade de trabalho e do rendimento físico;
- alterações da imunidade - maior índice de infecções.
Para o tratamento é fundamental uma diversificação da dieta, principalmente com produtos de origem animal e vegetais em geral.
DESNUTRIÇÃO PROTÉICO-CALÓRICA
Agravo desencadeado por uma má-nutrição, na qual são ingeridas quantidades insuficientes de alimentos ricos em proteínas e/ou energéticos a ponto de suprir as necessidades do organismo. A desnutrição pode originar-se de forma:
- primária : baixo nível sócio-econômico - pobreza, privação nutricional, más condições ambientais levando a infecções e hospitalizações frequentes, baixo nível educacional e cultural, negligência, falta de amamentação, privação afetiva. Neste caso a correção da dieta bastará para que se obtenha a cura.
- secundária: apesar de haver oferta existem outros fatores que impedem a ingestão e absorção dos alimentos - má-absorção, estenose do piloro, ou aumentam a sua necessidade - hipertireoidismo. Sua evolução estará na dependência da doença que a ocasionou.
- mista: situação em que os dois mecanismos estão envolvidos.
A baixa ingestão energética leva o organismo a desenvolver mecanismos de adaptação: queda da atividade física em comparação com crianças normais; parada no crescimento (falta de ganho de peso e altura) e alteração da imunidade.
A desnutrição pode ser classificada por diversos critérios, porém no Estado de São Paulo,utiliza-se percentis (valores que dividem o conjunto ordenado de dados obtidos em 100 partes iguais). Os percentis de corte escolhidos foram 10 e 90. Assim, considera-se normal valores compreendidos entre os dois.
A gravidade da desnutrição também pode ser classificada segundo critérios de Gomez, em 1º, 2º e 3º graus, conforme a perda de peso apresentada pela criança.
- Desnutrição de 1º grau ou leve - o percentil fica situado entre 10 e 25% abaixo do peso médio considerado normal para a idade.
- Desnutrição de 2º grau ou moderada - o déficit situa-se entre 25 e 40 %.
- Desnutrição de 3º grau ou grave - a perda de peso é igual ou superior a 40%, ou desnutridos que já apresentem edema, independente do peso.
Em termos populacionais há um predomínio da desnutrição de 1º grau, onde o organismo adapta-se à uma alimentação abaixo de suas necessidades, que, em geral, predomina por toda vida. Com isso, há uma parada no crescimento. É por isso que "em estudos populacionais a estatura é tão valorizada, sendo encarada como indicador do estado nutricional atual ou, principalmente, pregresso" (LOPES,_____). Estudos já comprovaram que as camadas mais pobres da sociedade têm uma alimentação geralmente equilibrada, sob o aspecto qualitativo, porém em quantidade insuficiente.
Existem algumas pesquisas relatando que a desnutrição grave pode ser decorrência de falta de vínculo mãe-filho que levam a mãe a descuidar da criança a ponto de por sua vida em perigo. Estabelecem uma associação entre o grave déficit nutricional e vínculo inseguro e desorganizado entre mãe-filho. Porém esta mãe normalmente não recebeu carinho em sua infância, com isso não consegue ofertar ao filho. Acha-se incapaz, que seu leite é fraco e tem baixa auto-estima. Assim, acreditam ser desnecessário investirem nas crianças por não serem boas mães. É um ciclo vicioso que a equipe multiprofissional vai precisar trabalhar para reverter essa situação.
A desnutrição grave pode apresentar-se de três formas: Marasmo, Kwashiorkor e Marasmo-Kwashiorkor.
O tratamento da desnutrição está intimamente relacionado com aumento de oferta alimentar, que deve ser feito de forma gradual em função dos distúrbios intestinais que podem estar presentes. Após a reversão deste quadro, fornecer dieta hipercalórica para a recuperação do peso da criança; corrigir distúrbios hidro-eletrolíticos, ácido-básicos e metabólicos e tratar das patologias associadas; obtenção de adesão da mãe ao tratamento, o que irá facilitar a recuperação da criança em menor tempo e com maior intensidade.
Por se tratar de um problema, em sua maioria das vezes, social é importante que a equipe de saúde esteja atenta, encaminhando esta família para assitentes sociais, comunidades de bairro e pastorais da criança para que consigam algum tipo de auxílio para suprirem suas carências.
A não-criação de vínculo mãe-filho também pode levar uma criança a desenvolver desnutrição em função da negligência. Outras vezes a falta de informação leva a um preparo inadequado dos alimentos, levando a família a alimentar-se com uma dieta pouco nutritiva.
Os profissionais não podem culpar a família pela debilidade de seus filhos, cabe a nós orientá-los para evitar danos à saúde de nossas crianças e adolescentes, promovendo o fortalecimento do vínculo da criança com a família, com informação.
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obesidade na infância e Adolescência
Tem sido um motivo frequente de preocupação em função de sua alta incidência, principalmente nas classes mais abastadas, pelo maior consumo de alimentos pouco nutrtivos e em grandes quantidades. Além da preocupação estética, a obesidade está intimamente relacionada com a hipertensão arterial, alterações cardíacas, diabettis melitus e outras patologias.
Graças à sua complexidade, há uma necessidade de atuação multiprofissional. É um distúrbio do estado nutricional traduzido por um aumento do tecido adiposo, reflexo do excesso de gordura resultante do balanço positivo de energia na relação ingestão-gasto calórico. Pode se desenvolver por alguns fatores:
- caráter familial - alerta para se desenvolver ações profiláticas pois um adulto obeso tende a ter filhos com grande chance de desenvolverem a obesidade e também tornarem-se adultos obesos;
- fatores endócrinos - responsáveis por um pequeno número de casos;
- fatores psicológicos atrelados à falta de exercícios físicos;
- renda, hábitos e culturas familiares, propaganda, escola, trabalho, grupo de amigos, entre outros.
1. Obesidade na Infância
É cultural o atrelamento da gordura à saúde, principalmente em se tratando de bebês. Muitas vezes ocorre o abandono do aleitamento materno ou o desmame precoce por acreditar-se que o leite do peito não sustenta, passando ao uso de mamadeiras com alto aporte protéico-calórico.
O excesso de farinha, introdução precoce de sólidos, ingestão excessiva durante os primeiros anos de vida; hábitos inadequados :falta de horário, excesso de guloseimas, desequilíbrios dietéticos e sedentarismo infantil; ou mesmo a baixa renda, levando a um excesso de consumo de carboidratos e diminuição do consumo de proteína animal ou vegetal são os principais fatores desencadeadores da obesidade infantil.
A obesidade persistindo durante a idade pré-escolar, escolar e adolescência pode levar esta criança a desenvolver problemas psicológicos em função de comentários e gozações que podem surgir por parte de outros colegas. Essa situação leva a um ciclo vicioso pois a pouca aceitação grupal fortalece a baixa auta-estima e a desvalorização pessoal levando ao afastamento das atividades físicas.
2. Obesidade na Adolescência
Trata-se de um problema da infância que progride para essa fase ou pode ser desencadeado pelo: sedentarismo; alto consumo de sanduíches, salgadinhos, guloseimas e gorduras; horário de escola que atrapalham as refeições, substituindo-as por alimentos inadequados; o trabalho pode funcionar como agravante do sedentarismo; além da susceptibidade a propagandas.
Nas meninas, a demanda para emagrecimento ocorre frequentemente após a menarca, enquanto que nos meninos isto costuma ocorrer no início da puberdade.
3. Indicadores de Obesidade
Existem vários critérios usados para definir a obesidade na infância ou adolescência:
IO = (peso corpóreo real / peso ideal) - 1 x 100Este método é complicado para ser usado entre os adolescentes por encontrarem- se em diferentes momentos de seu crescimento físico e de sua maturação sexual.
IMC = peso / altura
Sendo considerado normais valores menores ou iguais a 19%.
4. Tratamento
A profilaxia constitui-se o melhor tratamento, com vigilância dos fatores predisponentes na infância e adolescência:
Não recomenda-se amedrontar as crianças e adolescentes sobre os possíveis agravos de saúde que poderão ter no futuro. é importante relacionar a obesidade a uma limitação de desempenho individual e social, trazendo problemas estéticos, dificultando a prática esportiva, o uso de roupas de moda, problemas de aceitação em relação aos amigos e problemas de locomoção.
Toda perda de peso é importante ser valorizada, havendo uma análise crítica construtiva do insucesso quando não ocorrer perda. Desaconselha-se a pesagem frequente por ser um fator de angústia. O uso de medicamentos fica a critério médico.
Cuidados com a restrição alimentar que, se não bem balanceada, pode levar a desequilíbrios nutricionais. por ser um tratamento bastante complexo faz-se necessário a importância de equipes treinadas de profissionais para que se possa atingir os resultados mais satisfatórios.
A adesão dos pais também é fundamental pois servem como modelos aos seus filhos, por isso é de grande benefício que eles estimulem e alterem sua dieta, equilibrando-a, além de ensinar sobre os benefícios dos exercícios físicos.
BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS
CARRAZA, F.R. et al Introdução ao Estudo dos Agravos Nutricionais. In: MARCONDES, E. Pediatria Básica. 8ºed. São Paulo: Sarvier, 1994. p.609-612
CARRAZA, F.R. Desnutrição. In: MARCONDES, E. Pediatria Básica. 8ºed. São Paulo: Sarvier, 1994.p. 635-643
COUTO, A. Hospital da Região destaca-se por Combate a Distúrbios da Nutrição 1998.
IONEMOTO, H.F. & PETLIK, M.E.I. Anemias Carenciais. In: MARCONDES, E. Pediatria Básica. 8ºed. São Paulo: Sarvier, 1994.
LEÃO, E. et al Pediatria Ambulatorial 2º ed. Belo Horizonte: COOPMED, 1989.
MODICA, P. Parenteral Obesity Increases Child's Risk of the Condition as an Adult, Study Furels Tribune Médico, 1997.
MOYSES, M.A.A. & LIMA, G.Z. Desnutrição e Fracasso Escolar, uma relação tão simples?
NETTO, A.S.C. & SAITO, M.I. Obesidade na Infância e Adolescência. In: MARCONDES, E. Pediatria Básica. 8ºed. São Paulo: Sarvier, 1994.
SIGAUD, C.H.S. & VERÍSSIMO, M.R. Enfermagem Pediátrica: o cuidado de enfermagem à Criança e ao Adolescente. São Paulo: EPU, 1996.
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